10 março 2009

Inércia

Acordei.
Fiquei olhando ele dormindo, pensando no quanto é feio de boca aberta.
Os dentes amarelecidos por causa do cigarro.
Uma cicatriz na sobrancelha.
Muito tempo se passou...
e ainda ronca.

Acordou.

- Bom dia - ele bocejou, me interrogando com os olhos quanto tempo estaria eu a observá-lo.

A essa pergunta, eu quis confessar que ao repará-lo senti minha vida atravessada na garganta. Que, enquanto olhava para ele, todos os meus sonhos vinham à tona. que lembrava de tudo o que eu sempre quis ser e acabei esquecendo no meio do caminho.

Bom dia - respondi então

Então ele, querendo desvendar cada pedaço de mim, ficou assim, a me olhar. Por tempo indefinido. Levantou e foi beber o copo d'água matinal.
Deitou ao meu lado, me disse as horas e sussurrou no meu ouvido que gostaria de passar o dia comigo.

Nem sempre foi assim, é bem verdade.
Quantas vezes eu quis abrir mão da minha vida, abrir mão dos meus sonhos pra viver a nossa vida, alimentar os nossos sonhos.
Não. Eu não podia mais.

Respondi que seria muito bom de fato, mas tinha que trabalhar.
Ainda tinha meia hora antes de me vestir.

Ele me ajeitou em seus braços, fechou os olhos, cheirou meu pescoço e beijou minha testa.
Ficamos assim, ali.
Eu pensando no quanto ele é bonito de boca fechada.
Ele pensando que me reconquistaria.

Um comentário:

aLê disse...

Eu tapo o sol com a peneira, fingindo que me engano. Você finge que está acreditando em mim.