10 março 2009

Inércia

Acordei.
Fiquei olhando ele dormindo, pensando no quanto é feio de boca aberta.
Os dentes amarelecidos por causa do cigarro.
Uma cicatriz na sobrancelha.
Muito tempo se passou...
e ainda ronca.

Acordou.

- Bom dia - ele bocejou, me interrogando com os olhos quanto tempo estaria eu a observá-lo.

A essa pergunta, eu quis confessar que ao repará-lo senti minha vida atravessada na garganta. Que, enquanto olhava para ele, todos os meus sonhos vinham à tona. que lembrava de tudo o que eu sempre quis ser e acabei esquecendo no meio do caminho.

Bom dia - respondi então

Então ele, querendo desvendar cada pedaço de mim, ficou assim, a me olhar. Por tempo indefinido. Levantou e foi beber o copo d'água matinal.
Deitou ao meu lado, me disse as horas e sussurrou no meu ouvido que gostaria de passar o dia comigo.

Nem sempre foi assim, é bem verdade.
Quantas vezes eu quis abrir mão da minha vida, abrir mão dos meus sonhos pra viver a nossa vida, alimentar os nossos sonhos.
Não. Eu não podia mais.

Respondi que seria muito bom de fato, mas tinha que trabalhar.
Ainda tinha meia hora antes de me vestir.

Ele me ajeitou em seus braços, fechou os olhos, cheirou meu pescoço e beijou minha testa.
Ficamos assim, ali.
Eu pensando no quanto ele é bonito de boca fechada.
Ele pensando que me reconquistaria.

26 dezembro 2008

Confissão

Nem sempre é ruim estar apaixonado.
No meu caso... É sempre ruim.
Nem sempre é bom ver a verdade nos olhos de alguém.
No meu caso... É sempre ruim.
A verdade não me interessa.
E nem a mentira, tão pouco.

Subestimei pessoas, superestimei outras.
Fui machucada, machuquei algumas vezes.
E, é sempre bom.
Sentir-se desarmada por alguém que lê tua alma num olhar..
Alguém esse que nunca te viu.. Não te conhece.
E olhar.. pra esses olhos que te descobrem, e nada saber.

Nem sempre é ruim estar apaixonado.
Eu gosto sempre.

24 abril 2008

(re)conhecer

"... que já lhe dissera que ela não tinha bom gosto pra se vestir, lembrou-se de que sendo sábado ele teria mais tempo porque não dava nesse dia as aulas de férias na universidade, pensou no que ele estava se transformando pra ela, no que ele parecia querer que ela soubesse, supôs que ele queria queria ensinar-lhe a viver sem dor apenas..."

o cotidiano. a rotina. as escolhas não feitas. as que escolhemos abrir mão. tudo o que somos e o que decidimos não ser. talvez eu seja mais não-ser do que penso que sou.
tudo o que acontece. todos que nos cercam. as preocupações. as alegrias. tristezas. angústias. pesares. sorrisos. felicidades.
e cigarros que mediam conversas inacabadas. o copo de café que não esvazia. a nostalgia de fim de tarde. e o medo.
medo de que o sol nasça de novo. e o cigarro acabe. e a conversa amorne. e o copo esvazie.

algumas pessoas entram na nossa vida sem nenhuma pretensão de se tornarem importantes, sem pretensão de se tornarem especiais. e tenho muito apreço por cada uma delas. meus amigos. meus amores. minha irmã.

tanta troca de carinhos e risadas, confissões, declarações, e a noite lá fora...
tantas lágrimas e intimidades e inseguranças. e o medo do amanhecer...

14 fevereiro 2008

(Des)encontros

dia desses eu vi um documentário onde as pessoas encreviam o que falatava a elas.
via-se coisas como *dinheiro *comida *amor
outras como *o futuro *companhia
mas pro último fatava *tudo e nada.

é o que me falta.
nesses dia eu tenho faltado a mim como nunca antes.

e me encontrei em fotos.
me encontrei andando sozinha por lugares desconehcidos.
e me perdi.

tudo..
e
nada!

04 outubro 2007

Pilhas, Filas, Caixas...


Depois de uma conversa com alguém...
Depois de ouvir comentários sinceros a respeito de eventualidades vis
e sórdidos(segundo terceiros) acasos que que ocupam parte crucial da minha vida cotidiana...
Fiquei pensando:
[Discussão clichê acerca do padrão de normalidade]
O que acontece na minha vida, tudo a que me entreguei, tudo que me permito...
e tudo o que se sucede (inclusive as escolhas que não fiz)...
Em que ponto acontece a construção das idéias? Qual a real importância de nossos valores,
se eles serão julgados por olhos estranhos?
Corrupção, incesto, libertinagem, honestidade, lealdade, luxúria, inveja, tristeza...
O que se perde e até onde se ganha em coibir ou dar vazão
a nossos instintos e vontades e nossa essência latente?
É mais cômodo culpar a instrução ou omissão dos pais(Educadores primários e hipotéticos responsáveis pela formação do caráter do indivíduo gerado)?
Não os culpo. Não nego que tanto sua instrução como sua omissão(tenho minhas dúvidas em relação a parcela de atuação de cada um, neste caso) abriram caminhos para que o mundo me encontrasse.
É condenável rir[com um prazer desvairado] com Tarantino?
É anti-ético encontrar a utopia de vida[relacionamentos] em Bertolucci?
Que remédio transloca a paz que se encontra em contos sádicos?


Livros. Filmes. Experiências alheias.
Censurar a influência?
E o que é isso tudo se não eu fragmentada e refetida no que meus sentidos me proporcionam?!
[Meu filho... esse livro que você está lendo... qual é o nome dele mesmo?]
[ah, mãe... é 'o monge e o executivo']
.
.
.
Quer saber?
Metodismo me dá nauseas

- Minha filha... o que é isso cor de abóbora na panela?
(...)
- Ah!... Coloquei colorau no arroz
^^

20 setembro 2007

Desilusão


"Desejo uma fotografia
como esta - o senhor vê? - como esta:
(...)
Não... neste espaço que ainda resta
ponha uma cadeira vazia"

[Cecília Meireles: Encomenda]

por tantas vezes procurei a pessoa certa.. a música que tão bem se enquadraria em dias de chuva, dessas que um 'sol' no lugar de um 'dó' podem pôr a perder uma tempestade...
procurei momentos perfeitos, amores e ilusões
sem sucesso
sem rumo, a caminhar pelos escombros do que restou de mim
encontrei.
atrás de uma porta marrom descascada,
o vazio de uma foto perfeita..



não era esta senão mais uma ilusão
não era a foto perfeita

18 setembro 2007

Deterioração


há alguns anos atrás, eu comecei um diário.
ele sabia demais de mim, e, muito embora confiasse nele plenamente,
nunca confiei na minha mãe.
queimei.
e, o que se sucedeu em mim foi algo indefinível.

em 13 de outubro de 2005 comecei outro
[que sentiu o peso da minha caneta pela última vez em 10 de abril de 2007]

no desfolhar da minha vida achei alguma coisa:

"(atemporal)

Papai falou que quando alguém fica adulto não consegue mais ver desenhos nas nuvens...
ando cuidando muito para que eu sempre veja formatos nas nuvens...
Tô muito triste com o papai. Acho que ele virou adulto...
Papai agora faz um monte de coisas que só gente grande faz...
Acho que tenho medo de descobrir que ele se acostumou em não ver formatos nas nuvens. Ou, pior, descobrir que não consigo fazer com que ele veja."

e agora.. quando esqueço de olhar as nuvens, lembro dele.
que sempre foi adulto, e escondia isso de mim tão bem.